EU CONHEÇO A DOR COM A PALESTRANTE COMPORTAMENTAL IRLEI WIESEL
A seca e o calor castigam o nosso estado. O Rio Grande do Sul está sob forte tensão.
Nasci no campo e aprendi a olhar para o céu. Hora, pedindo chuva e hora, pedindo que a chuva parasse. Conheço o efeito do tempo sobre os planos e projetos da família do campo.
Lembro que as metas sempre dependiam do céu, jamais do trabalho. Meus pais não temiam o trabalho, com sol, chuva ou frio, a jornada seguia. Não havia o conforto de 8 horas trabalhadas. O que havia era dar conta das demandas ao amanhecer até o anoitecer.
Enquanto o trabalho consumia o tempo livre, o olhar era direcionado ao céu. A colheita da produção dependia de anjos flutuando sobre nós. Nem sempre isso acontecia. Apesar da fé, esperança e expectativas positivas, o tempo com tempestades, secas ou geadas inesperadas, consumiam com o básico.
Aprendi a ter poucos sonhos, aprendi a pedir que o tempo ruim não destruísse o básico.
Preces não nos protegiam. O que nos protegia era esperar. Cada destruição de lavoura arrasava minha família. Eu cresci cuidando da terra e olhando pro céu.
Conheço a dor dos estragos do tempo, sobre o investimento e o trabalho do homem do campo. Não há tecnologia suficiente para impedir a desilusão dos que na terra trabalham. O que há são seres humanos que ensinam a resiliência como ninguém.
Meus pais, costumavam sentar conosco e expor a situação e pediam a nossa colaboração.
Sabíamos que os brinquedos seriam para o ano seguinte. Honro e reverencio os ensinamentos deles. Com o apoio e a força do recomeço, uma família de seis pessoas nunca desistiu de viver as tempestades e a brisa suave do tempo. Sobrevivemos com caráter e honestidade.
os que estão passando pela seca no campo, precisam esperar por dias melhores. Eles sempre virão. Os anjos voltarão a sobrevoar os céus do nosso estado.
Meu carinho e solidariedade a cada folha que balança pedindo água, ao açude que secou, ao pasto que está escasso, ao gado que emagrece, as hortaliças que secam, a estrada empoeirada, enfim, a dor é de todos. Mas são as famílias do campo que eu reverencio, pois chorar pelo básico é para os fortes.
Eu sei, eu vivi, eu conheço, eu sobrevivi.
Força, tudo passa!!! Irlei Hammes Wiesel